Aquilo, de ir de pro fundo do quintal, me encantava.
Aquilo, de desenhar com uma pontinha incandescente, me misteriava. E tinha nome direito e sério: pirogravura.
Aquilo, de dar no couro, era o que ele fazia durante os quatro anos e nove meses que passou na "Ilha". E que continou a fazer, depois que saiu de lá.
O sair de lá foi batizado como Anistia. A Ilha tem nome, Itamaracá. O presídio: Barreto Campelo, em Pernambuco.
De lá, trouxe silêncio, violão, orvalho de suor. E um monte de tela. Couro esquecido.
Eu, dedo na boca, não lembro como fui parar ali. Aquilo era coisa de muita foice, lenço de camponesa, camisa aberta no peito, Zé Meninos, mato, pilão, olho de peixe morto, bocas vivas. Dava medo.
Couro fede. Descapelar memórias, também.
Aquilo, aquilo agora era meu pai.
E são dez dessas telas que vão estar expostas na Coletiva Anistiados.
Pra desencouraçar histórias.
*Tela: Bosco Rolemberg, 1984 (Acervo Banco do Estado de Sergipe)
domingo, 5 de julho de 2009
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dá é gosto ler as idéias encaracoladas de olhos brilhantes que brotam dos seus dedos...
ResponderExcluirestarei lá para ver o couro feder e sentir os olhos verdes brilhantes de emoção.
ResponderExcluirÉ lembrança, é sentimento, é realidade. Já vi Boscão totar violão e ouvi as notas que dele saíram. É de arrepiar o couro, digo, a pele.
Menina de dedo na boca, retratada no couro: você vale ouro.
Até lá! Janinja.